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domingo, 10 de janeiro de 2010

Maciel Melo: eterno "Caboclo sonhador"

Augusto Martins, Maciel Melo e Daniel Ferreira (no centro)
Desde o distante trilhar, no “Desafio das Léguas”, que o “Caboclo Sonhador” Maciel Melo vem montado no seu cavalo de versos e canções, rompendo a caatinga da anti-cultura, em busca de mostrar seus cantos e cantigas, dizendo “Sim e não a Reis e Rainhas”, e entoando a voz “Que Nem Vem-Vem” para os quatros cantos do Brasil.

Violeiro de primeira linha e portador de uma voz belíssima, o cantador pajeusense da poética princesa Iguaracy, louva “O veio d’água do Rio Pajeú”, o lendário feiticeiro da poesia e dos cantos, quando junto com seu violão universaliza a sua aldeia através de uma poética telúrica e comprometida com as raízes profundas da identidade sertaneja. Com o “Coração tão Sertanejo”, Maciel Melo vem abrindo “Alas para um novo Cantador” e nos mostrando através do seu canto universal a grandeza de um povo que não ficou tão órfão com a partida do “Rei do Baião”.

O “Caboclo Sonhador” Maciel Melo trilha muito bem sobre as diversas formas de compor e cantar o Sertão nordestino. No seu trabalho encontramos o que se chama de erudito, de toada, de cantiga ou de herança trovadoresca, em que sua voz e seu violão de forma plangente ou não, nos mostra o Sertão com profundidade melódica e poética, onde “A barra-do-dia-a-dia” mostra a aurora de um cantador que tanto canta a dor crepuscular da vida sertaneja, como canta as auroras do Sertão na sua forma mais bela e encantadora.

O cantador/menino que tem veios d’água do rio Pajeú nos seus dedos e coração sertanejo criou de forma muito peculiar o jeito de tocar o baião no violão, inventando uma batida inovadora, como fez João Gilberto através da Bossa Nova. Além de ser um trovador/erudito, o cantador do Pajeú é um dos maiores cantores e compositores no universo do Baião, Xote e demais ritmos da música que imortalizou o saudoso Luiz Gonzaga.Ouvir as melodias telúricas do “Caboclo Sonhador” Maciel Melo nos remete as noites de São João, quando as “Damas de Ouro”, com seus vestidos de chita, multicores, enfeitavam as festas juninas, repletas de candura e inocência sertaneja. Caminhar “Na poeira e na estrada” dos xotes do cantador de Iguaracy é possível encontrar o amigo/cantador jogando luzes na escuridão das almas aflitas pelo mundo do desamor. Ao penetrar no profundo “Coração tão Sertanejo” da tropeiro/cantador percebe-se as “Marias da Labuta” do imenso mosaico/humano sertanejo, que como o "umbuzeiro elomariano", resiste às enchentes das dificuldades da vida, para cuidar da prole e do árduo trabalho camponês.

A música de Maciel Melo é um trato puro e fino para falar do povo da sua aldeia sertaneja, que como os povos do mundo inteiro, sofrem as mesmas vicissitudes e alegrias dos que habitam o planeta terra. O Vate do Pajeú não inventa música, ele se faz cronista e cantador peregrino com sua viola e um “Coração tão Sertanejo”, sempre levando seus cantos e versos, “desfilando nas avenidas” do mundo, “num forrofiado tão da bexiga de bom”.

Por Gilmar Leite

(http://www.aguasdopajeu.blogspot.com/)